quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Para você Gaivota Mór


Fernão Gaivota passou o resto dos seus dias sozinho, mas voou muito além dos Penhascos Longínquos. A solidão não o entristecia. Entristecia-o que as outras gaivotas se tivessem recusado a acreditar na glória do vôo que as esperava.
Aprendia cada vez mais. Aprendeu que um eficiente mergulho a grande velocidade lhe dava o peixe raro e saboroso que vivia a três metros abaixo da superfície do mar. Já não precisava de barcos de pesca nem de pão duro para viver. Aprendeu a dormir no ar, estabelecendo um percurso noturno pelo vento do largo, cobrindo cento e cinquenta quilometros desde o ocaso até aurora. Utilizando o mesmo controle interior, voou através de nevoeiros cerrados e subiu acima deles para céus estonteantes de claridade...enquanto qualquer outra gaivota ficava em terra, conhecendo apenas neblina e chuva. Aprendeu a dominar os altos ventos do continente e a jantar ali delicados insetos.
O que outrora desejara para o bando, tinha-o agora para si só. Aprendera a voar e não lamentava o preço que pagara por isso. Fernão Gaivota descobriu que o tédio, o medo e a ira são razões por que a vida de uma gaivota é tão curta, e sem isso a perturbar-lhe o pensamento, viveu de fato uma vida longa e feliz

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